Embora o ex-presidente Donald Trump tenha prometido a deportação em massa de indocumentados, afetando ao menos 230 mil brasileiros sem autorização para viver nos Estados Unidos, muitos destes imigrantes, inclusive aqueles em risco de deportação, têm se mostrado apoiadores do republicano. Para alguns, como Rafael, brasileiro de 36 anos que vive com uma tornozeleira eletrônica na perna, o apoio a Trump é uma forma de alinhar-se à ideia de uma “limpeza” das ruas, ou de se ver como alguém que não se enquadra nas críticas de Trump ao que considera uma “invasão” de criminosos.
Rafael e sua esposa Soraia, que vivem na Flórida e enfrentam a iminente ameaça de deportação, carregam a incerteza de um futuro sombrio. O pedido de asilo do casal foi negado, e após o último recurso rejeitado, o ICE (Serviço de Imigração e Alfândega) instalou a tornozeleira eletrônica em Rafael. Soraia, que sofre de uma doença autoimune grave e depende de tratamento médico especializado nos EUA, teme pela própria vida caso sejam forçados a retornar ao Brasil, onde ela não teria acesso a um tratamento tão avançado. Mesmo diante dessa dura realidade, Rafael surpreende ao afirmar que votaria em Trump. Ele acredita que o republicano fará uma “boa limpa” nos imigrantes criminosos, mas acredita que, por nunca ter tido problemas com a lei, ele e sua família seriam deixados em paz.
Trump, em sua campanha, repetiu a promessa de expulsar até um milhão de imigrantes por ano e fortalecer ainda mais a segurança nas fronteiras, o que inclui medidas como a construção de muros e o endurecimento das políticas de imigração. No entanto, essa retórica não tem afastado todos os latinos, incluindo os brasileiros. De fato, um estudo revelou que Trump conquistou 35% dos votos de brasileiros nos EUA, um número considerável, dado o discurso anti-imigração do republicano.
A razão por trás desse apoio entre brasileiros indocumentados é multifacetada. Rafael, por exemplo, compartilha a visão de que o país está sendo “invadido” por imigrantes e que as vagas de trabalho se tornaram mais escassas. Além disso, muitos brasileiros acreditam que as políticas de Trump beneficiam a economia, com uma visão de que o republicano foi responsável por uma “melhora” durante seu mandato. Outro fator importante é a forte presença evangélica na comunidade brasileira nos EUA, que tem se alinhado a Trump, especialmente após o presidente ter apoiado a reversão do direito ao aborto.
Entretanto, essa aliança pode ser arriscada. Trump prometeu um programa de deportação em massa, o que levanta a possibilidade de que até mesmo aqueles que apoiam suas políticas possam ser alvo da deportação. A comunidade brasileira nos Estados Unidos, composta principalmente por trabalhadores no setor de construção e serviços, está vulnerável, e muitos se veem como “invisíveis” para o governo dos EUA, acreditando que suas histórias de vida e sua contribuição para o país não seriam levadas em conta nas ações de deportação.
Esse paradoxo está presente em diversas histórias, como a de Alice, outra brasileira que vive nos EUA com sua filha americana e se vê na iminência de ser deportada. Ela reconhece que as políticas de Trump são prejudiciais para imigrantes, mas ainda assim, no contexto das suas próprias preferências políticas, acredita que o republicano representaria um mal menor comparado às políticas do governo Biden.
Essas tensões e dilemas estão em ascensão entre os brasileiros em situação irregular nos Estados Unidos, e a vitória de Trump nas eleições de 2024 deixa em suspense o futuro de centenas de milhares de pessoas, algumas das quais ainda mantêm a esperança de que suas histórias pessoais e sua contribuição ao país possam proteger suas famílias da deportação. No entanto, especialistas alertam que, no sistema de imigração americano, as políticas impessoais podem, de fato, afetar até mesmo aqueles que defendem o governo de Trump.
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