Medo e Incerteza: Imigrantes brasileiros nos EUA evitam trabalhar e mandar Filhos à escola

Medo e Incerteza: Imigrantes brasileiros nos EUA evitam trabalhar e mandar Filhos à escola

Imigrantes brasileiros que vivem nos Estados Unidos têm relatado uma crescente sensação de medo, com muitos deixando de ir ao trabalho e evitando levar seus filhos para as escolas, temendo a possibilidade de serem detidos por agentes da imigração. Nos últimos dias, algumas das primeiras operações federais contra imigrantes sem documentos ocorreram em residências no subúrbio de Chicago, intensificando a apreensão nas comunidades.

Os relatos de imigrantes são unânimes: pessoas permanecendo em casa, crianças faltando à escola e grupos se organizando para observar os movimentos dos agentes da Imigração e Alfândega dos EUA (ICE). “Tem dias que a polícia diminui, tem dias que é uma loucura”, afirma um imigrante brasileiro da Flórida, que preferiu manter o anonimato. Ele mantém contato com outros imigrantes através do WhatsApp, onde circulam informações em tempo real sobre as operações do ICE.

Trabalhando na construção civil e com dois filhos no país, o imigrante tem o receio constante de ser deportado por estar em situação irregular. “Já parou [o ICE] na frente do condomínio de um amigo meu e pegou dois ou três lá. Está dando muito medo”, disse ele, destacando que a maior preocupação é ser separado de seus filhos caso seja deportado e eles não. “Com quem vão ficar as crianças? A gente não conhece tantas pessoas aqui”, lamenta.

Impacto na Comunidade e no Mercado de Trabalho

André Simões, gerente de projetos do Brazilian Worker Center, uma das maiores organizações sociais de Boston, relatou que muitos imigrantes têm buscado ajuda financeira devido à diminuição da participação no mercado de trabalho. “A maioria dos trabalhos é por hora. Quando as pessoas não vão trabalhar, isso afeta toda a comunidade”, afirmou Simões, destacando o aumento da insegurança nas comunidades imigrantes.

Além disso, ele mencionou que, por meio do WhatsApp, as comunidades trocam informações sobre onde o ICE está presente, o que faz com que muitos imigrantes optem por não sair de casa. O Brazilian Worker Center, junto com outras organizações, tem promovido encontros informativos, conhecidos como “conheça seus direitos”, com advogados presentes para orientar sobre como agir durante uma possível interação com os agentes de imigração.

Crianças Imigrantes Também Sofrem com o Medo

A insegurança também afeta diretamente as crianças. Uma professora brasileira em Massachusetts, que preferiu não se identificar, relatou que as crianças estão cada vez mais temerosas. “Eles perguntam: ‘E se o ICE vier aqui? Se me pararem quando eu sair do ônibus da escola, você vai me ajudar? O que vocês vão fazer?’”, descreve. Segundo ela, desde a implementação das políticas de deportação acelerada sob o governo Trump, o número de faltas aumentou 50%, especialmente entre os alunos imigrantes.

Uma socióloga brasileira e organizadora comunitária da equipe do Massachusetts Immigrants and Refugees Advocacy Coalition (MIRA) ressaltou que os imigrantes recém-chegados aos EUA são os mais vulneráveis. “A internet e os aplicativos de mensagem, como o WhatsApp, espalham muitas informações erradas, o que intensifica o medo”, explicou. Ela também alertou para o risco de prisões em locais protegidos, como igrejas, escolas e hospitais, já que o Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) revogou uma diretriz que impedia a prisão de imigrantes nessas áreas.

Mudanças nas Regras de Imigração Aumentam o Medo nas Comunidades

Com a revogação da medida que protegiam espaços como igrejas, escolas e hospitais, as comunidades imigrantes sentem um novo nível de insegurança. “Infelizmente, as igrejas, que são locais centrais para a sociabilidade da comunidade, não oferecem mais o mesmo nível de proteção”, lamentou a socióloga. Contudo, alguns políticos locais, como a prefeita de uma cidade do estado, têm se manifestado em defesa dos imigrantes, garantindo que as escolas estarão protegidas de ações do ICE.

O advogado Antonio Massa Viana, especializado em direito de imigração em Massachusetts, reconhece o valor da informação, mas alerta que, em alguns casos, os alertas gerados nos aplicativos de mensagem podem criar pânico desnecessário. “Por exemplo, em um caso, houve um alerta falso sobre drones sobrevoando uma área, e muitos imigrantes deixaram de enviar seus filhos para a escola”, contou Viana.

Além de informar, o advogado tem promovido encontros em igrejas e organizações comunitárias para orientar os imigrantes sobre como se preparar em caso de uma detenção, incluindo o planejamento para quem ficará com os filhos ou como proteger bens materiais no país.

Preparação e Orientação são Essenciais para os Imigrantes

Viana também ressaltou que, para alguns imigrantes, é possível apresentar defesa jurídica, dependendo da sua situação. Ele orienta que os imigrantes busquem informações de fontes confiáveis e lembrou que nem todos os imigrantes estão sujeitos à deportação acelerada, o que dá a alguns a chance de lutar pela permanência no país.

Em meio ao clima de medo e incerteza, a comunidade imigrante brasileira nos EUA segue se unindo em busca de apoio, orientação legal e segurança, enquanto aguarda para ver como as políticas de imigração evoluirão sob o governo Biden e as decisões que afetam diretamente suas vidas e seus laços familiares.

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