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Trump adota postura mais pragmática em relação à China e surpreende mercado

Trump adota postura mais pragmática em relação à China e surpreende mercado

Durante a campanha eleitoral, Donald Trump era um crítico ferrenho da China, ameaçando aplicar tarifas de até 60% sobre produtos importados do país asiático. No entanto, já em seu retorno à Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos tem adotado uma abordagem mais pragmática e menos agressiva em relação à sua grande adversária comercial.

Apesar das promessas de endurecer o protecionismo durante a corrida eleitoral, com imposição de altas tarifas, Trump tem dado sinais de que prefere evitar medidas drásticas e está aberto à possibilidade de um acordo comercial com a China. Em uma entrevista à Fox News, o presidente afirmou: “Eu posso fazer isso [firmar acordos com a China] porque tenho algo que eles querem: uma mina de ouro”. Ele também indicou que as tarifas, embora ainda um importante instrumento nas negociações, não são a sua primeira escolha, já que a China não quer esse tipo de medida.

O mercado financeiro tem reagido positivamente à postura mais amena de Trump, refletindo na valorização do real frente ao dólar. Desde que o republicano reassumiu a presidência, a moeda brasileira avançou 3,13% em relação ao dólar, fechando a R$ 5,85 na última quinta-feira (30).

Essa mudança de comportamento de Trump não surpreendeu apenas os analistas financeiros, mas também lembra o movimento de outros líderes, como o presidente argentino Javier Milei, que mudou seu discurso sobre a China após assumir o cargo. Segundo o professor Rodrigo Zeidan, da New York University Shanghai, a realidade da governança frequentemente leva os presidentes a reavaliar suas posições quando confrontados com a importância dos grandes parceiros comerciais, como é o caso da China para os EUA.

A relação comercial entre os dois países continua a ser um dos maiores pilares da economia global. De janeiro a novembro de 2024, a China foi responsável por 10,8% das importações dos Estados Unidos, além de ser um destino importante para as exportações americanas. A dependência dos EUA de produtos chineses, como tecnologia, semicondutores e aparelhos elétricos, torna a taxação uma medida arriscada, pois poderia prejudicar os consumidores e a inflação interna.

Especialistas como Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper, destacam que a imposição de tarifas poderia elevar a inflação nos EUA e afetar negativamente a economia global. No entanto, as tarifas também têm sido usadas por Trump como uma estratégia de negociação geopolítica, como visto nas ameaças recentes contra a Colômbia, que resultaram em uma rápida reversão por parte do presidente colombiano após a ameaça de tarifas.

Embora o mercado financeiro esteja otimista com o atual tom de Trump, ainda existem incertezas sobre o futuro das tarifas. A expectativa de que o presidente possa voltar a adotar uma postura mais agressiva em algum momento continua a ser uma preocupação.

O impacto das decisões de Trump vai além das fronteiras dos EUA. O Brasil, por exemplo, pode ser afetado pela dinâmica da guerra comercial, especialmente devido à sua relação com a China, seu maior parceiro comercial. Caso as tarifas sobre os produtos chineses sejam mantidas ou aumentadas, o Brasil pode enfrentar tanto desafios quanto oportunidades, especialmente no setor agropecuário, que se beneficiou da primeira fase da guerra comercial.

Contudo, analistas apontam que o Brasil ainda carece de uma estratégia comercial robusta para aproveitar essas oportunidades. Segundo Rodrigo Zeidan, “o Brasil vai continuar do lado de fora, só olhando, porque ainda temos uma estratégia de exportação da década de 1960”, o que limita as potencialidades de aproveitamento das mudanças nas cadeias globais de suprimento.

Enquanto o cenário se desenrola, a cautela continua a ser a palavra-chave. Para os próximos meses, todas as atenções estão voltadas para os passos de Trump e como suas decisões podem impactar não apenas os EUA, mas também a economia global.

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