O dólar segue em alta, superando a marca histórica de R$ 6 pela primeira vez desde maio de 2020, e fechou a R$ 6,07 na terça-feira (3), após uma crescente valorização desde a última quarta-feira (27/11). A alta foi impulsionada pela expectativa em torno do anúncio do pacote de cortes de gastos pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, liderado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O aumento da moeda americana também é influenciado por incertezas externas, especialmente com as promessas do novo governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump.
Entre as medidas do pacote, destaca-se a proposta de isenção de Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil por mês. Para compensar a perda de arrecadação, pessoas com rendimentos superiores a R$ 50 mil poderão pagar uma alíquota maior. A medida, que deve resultar em um impacto de R$ 35 bilhões, gerou controvérsias sobre sua viabilidade e potencial eleitoreiro. Economistas alertam que essa proposta de desoneração pode afetar o mercado, com muitos questionando o impacto fiscal a longo prazo.
Ao mesmo tempo, o governo anunciou outras iniciativas para conter os gastos públicos, como a limitação do aumento do salário mínimo e a revisão de benefícios para militares, visando uma economia de R$ 327 bilhões até 2030. No entanto, as medidas não foram bem recebidas por parte do mercado financeiro, que expressou frustração pela falta de profundidade nos cortes e pela inclusão de propostas de isenção tributária.
O cenário internacional também tem contribuído para a pressão sobre o câmbio. O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, propôs políticas protecionistas, incluindo tarifas sobre importações, o que pode fortalecer o dólar e afetar ainda mais as economias emergentes, como a do Brasil. Além disso, a incerteza sobre o rumo fiscal do governo Lula e a reação do mercado, somados ao aumento das taxas de juros nos EUA, contribuem para um período de alta volatilidade.
Economistas como Josilmar Cordenonssi, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, acreditam que o mercado está desconfiado da política fiscal do governo e teme que as medidas sejam mais populistas do que eficazes para equilibrar as contas públicas. A confiança no controle da inflação e a atuação do Banco Central serão decisivas para a tendência do câmbio nos próximos meses. Enquanto isso, o real segue depreciado, o que mantém o dólar em patamares elevados, podendo ficar nesse nível ou até ultrapassar os R$ 6 dependendo das decisões fiscais e econômicas do país e do cenário global.
Deixe um comentário