A rotina pesada de quem trabalha com carteira assinada, enfrentando longas horas de deslocamento e desafios cotidianos, tem se tornado tema de conteúdo nas redes sociais, com muitos trabalhadores transformando sua vida no escritório em conteúdo para influenciar e engajar públicos. Esses “blogueiros CLTs” compartilham a realidade do trabalho formal, conciliando o emprego registrado com a carreira digital. No entanto, especialistas alertam para os cuidados necessários ao expor aspectos da vida profissional online, para evitar problemas com empregadores e com a privacidade.
O Fenômeno dos “Blogueiros CLTs”
Com a crescente presença de influenciadores digitais, muitos trabalhadores formais, conhecidos como “blogueiros CLTs”, começaram a usar plataformas como TikTok, Instagram e LinkedIn para compartilhar o dia a dia no trabalho, criando uma ponte entre a vida comum no mercado de trabalho e o entretenimento das redes sociais.
Exemplos como Pedro Bonvivant, de 27 anos, demonstram esse fenômeno. Com mais de 607 mil seguidores no TikTok, ele compartilha suas experiências cotidianas, como pegar o metrô lotado todos os dias, e afirma que seu conteúdo é muito sobre “a rotina de ser CLT e viver as situações que todo trabalhador vive”. Pedro, que também é formado em marketing e trabalha na área, acredita que seu conteúdo faz as pessoas se identificarem com a realidade difícil de quem tem carteira assinada, mas que também busca criar uma rotina de influenciador digital.
Rodrigo Lima, outro exemplo de “blogueiro CLT”, acumula mais de 8 milhões de curtidas no TikTok e compartilha suas experiências no transporte público, mostrando o cotidiano de quem trabalha como analista de planejamento. Apesar de ter uma boa monetização com a criação de conteúdo, Rodrigo não pretende abandonar sua carreira registrada e segue conciliando os dois mundos.
Thaisa Valdez, por sua vez, representa outro perfil: o “blogueiro CLT” remoto. Coordenadora de marketing, ela compartilha a experiência do home office, conquistando mais de 113 mil seguidores no Instagram. Apesar do sucesso como influenciadora, Thaisa mantém seu trabalho CLT, pois gosta da área em que atua e tem conseguido equilibrar as duas atividades.
Cuidados ao Compartilhar Conteúdo do Trabalho nas Redes
Embora esses influenciadores consigam equilibrar a vida profissional com a produção de conteúdo nas redes, especialistas apontam alguns cuidados essenciais para quem deseja seguir o mesmo caminho. Segundo Carolina Dostal, diretora regional da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-SP), é importante evitar a publicação de informações confidenciais da empresa e sempre alinhar o conteúdo compartilhado com os valores da organização. Algumas recomendações incluem:
- Não divulgar informações confidenciais ou dados sensíveis da empresa.
- Evitar falar mal do chefe ou da companhia publicamente.
- Não expor discussões internas ou informações sobre reuniões estratégicas.
- Cuidado com erros de português e com a propagação de notícias falsas.
- Não compartilhar fofocas ou assuntos polêmicos sobre colegas de trabalho.
Além disso, a especialista destaca a importância de o trabalhador estar alinhado com os valores da empresa. A boa conduta nas redes sociais pode ser benéfica tanto para o colaborador quanto para o empregador, sendo uma forma de promover a imagem da organização de maneira positiva.
A Regulação do Comportamento nas Redes Sociais
Embora não existam impedimentos legais para que um trabalhador registrado tenha uma carreira de influenciador digital, é necessário verificar as cláusulas do contrato de trabalho. A advogada trabalhista Juliane Facó explica que o empregador pode estabelecer normas internas sobre o uso das redes sociais, desde que estas não comprometam a imagem da empresa ou divulguem informações confidenciais. A exposição indevida de colegas ou clientes, por exemplo, pode ser motivo de advertência ou até mesmo demissão por justa causa.
No entanto, mesmo sem uma proibição explícita, a atitude do funcionário nas redes sociais pode afetar sua relação com a empresa, especialmente se houver danos à imagem corporativa. A advogada Carolina Dostal também reforça a necessidade de um bom gerenciamento de tempo e organização por parte do trabalhador, para que ele consiga manter o equilíbrio entre o trabalho formal e a produção de conteúdo digital.
Influenciador ou Trabalhador CLT: O Dilema do Emprego e da Influência
O fenômeno dos “blogueiros CLTs” mostra que é possível conciliar o trabalho com carteira assinada com a carreira de influenciador digital, desde que se respeitem algumas regras de etiqueta nas redes sociais e se tenha o cuidado de não prejudicar a imagem da empresa ou expor informações privadas. Embora o trabalho como influenciador possa ser lucrativo, muitos desses trabalhadores preferem manter seus direitos trabalhistas, como férias, 13º salário e FGTS, não abrindo mão de uma estabilidade que o regime CLT oferece.
Por outro lado, a questão das redes sociais no ambiente de trabalho pode trazer desafios tanto para empregador quanto para empregado, que devem estabelecer uma relação de confiança e respeito mútuo ao abordar o uso das plataformas digitais. Isso torna ainda mais importante que empresas forneçam orientações para seus funcionários sobre como se comportar nas redes sociais, evitando conflitos e preservando a imagem corporativa.
Com o crescimento das redes sociais, a vida do trabalhador CLT ganha visibilidade e protagonismo, mas com isso vem a responsabilidade de gerenciar com cuidado o que é compartilhado online, respeitando tanto a vida privada quanto os interesses da empresa.
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