Três capivaras foram encontradas mortas na Ilha Anchieta, em Ubatuba, entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020, e os exames realizados indicaram que duas delas apresentaram sinais de paralisia nas patas traseiras antes de falecerem, um dos sintomas característicos da raiva. Esses são os primeiros casos de raiva registrados em capivaras no litoral paulista e, mais amplamente, representam o terceiro relato mundial da doença em capivaras, e o segundo no Brasil.
O estudo que investigou as mortes foi publicado na revista Veterinary Research Communications e contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), conforme divulgado nesta quinta-feira (7). O diagnóstico de encefalite causado pela raiva foi confirmado por análises realizadas no Instituto Pasteur, em São Paulo.
Os pesquisadores identificaram que a variante do vírus da raiva presente nas capivaras era a mesma encontrada em morcegos-vampiros. Isso levanta a hipótese de que a transmissão do vírus entre essas espécies pode ter ocorrido. Especialistas apontam que distúrbios ambientais, como o desmatamento na região e reformas recentes de construções na Ilha Anchieta — que desalojaram temporariamente os morcegos — podem ter contribuído para a disseminação do vírus. Sob estresse, os morcegos podem ter transmitido o vírus entre si e, eventualmente, para outros mamíferos, como as capivaras.
Além disso, o estudo aponta que as mudanças no ambiente forçam os morcegos a procurar novas fontes de alimento, o que pode incluir mamíferos domésticos e até mesmo humanos, aumentando o risco de transmissão da raiva.
Monitoramento do Ciclo da Raiva nas Capivaras
Embora os casos de raiva em capivaras tenham sido confirmados, até o momento não há registros de transmissão do vírus para seres humanos. No entanto, especialistas alertam para o risco potencial, uma vez que as mordidas de capivaras podem causar lesões graves. O pesquisador Enio Mori, do Instituto Pasteur, enfatizou que o ciclo da raiva na natureza, especialmente em espécies como capivaras, ainda precisa ser mais bem compreendido. Ele sugere que as capivaras podem funcionar, por enquanto, como hospedeiros finais do vírus — ou seja, são infectadas sem transmitir a doença para outras espécies.
Diante dessa situação, pesquisadores recomendam a continuidade de estudos e a implementação de uma vigilância epidemiológica constante para monitorar o ciclo do vírus. O Instituto Pasteur, como parte da rede de vigilância da raiva no estado de São Paulo, seguirá acompanhando os casos, coletando amostras de diferentes regiões para entender melhor a dinâmica da doença entre os animais silvestres.
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