Preço do café dispara quase 78% em um ano com impacto do clima, alta internacional e logística cara
Produção afetada por seca e calor, quebra de safra no Vietnã e aumento da demanda global pressionam valor do produto no Brasil
O preço do café moído registrou uma alta acumulada de 77,78% nos últimos 12 meses até março, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apenas em 2025, a elevação já chega a 30%, sendo que somente em março, os preços subiram 8% em relação ao mês anterior.
De acordo com o IBGE, a disparada no preço está diretamente ligada à alta no mercado internacional do grão, motivada por uma redução na oferta global, com destaque para a quebra de safra no Vietnã – um dos maiores produtores mundiais de café robusta – e para os efeitos climáticos adversos no Brasil.
Problemas climáticos e colheita menor
O Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo, deve colher 5,8% menos café em 2025 em relação ao ciclo anterior, totalizando cerca de 53,8 milhões de sacas. A queda é puxada pela produção de café arábica, que deve encolher 10,6% este ano, de acordo com o IBGE.
A redução é explicada por um fenômeno conhecido como bienalidade negativa, típico do arábica, além de períodos prolongados de calor intenso e seca em 2024, especialmente em estados como Minas Gerais e São Paulo. A escassez de água levou as plantas a perderem folhas e abortarem frutos para sobreviver, o que comprometeu a produção.
“O primeiro semestre de 2024 teve clima muito desfavorável, o que obrigou muitos produtores a fazer podas drásticas nas lavouras, anulando a colheita deste ano para tentar garantir uma produção melhor em 2026”, explicou Cesar Castro Alves, da consultoria do Itaú BBA.
Custo logístico e guerra no Oriente Médio
Outro fator que contribuiu para a alta foi o encarecimento do transporte internacional, em decorrência de conflitos no Oriente Médio. A travessia pelo canal de Suez, rota importante para exportações da Ásia para a Europa, foi afetada por ataques e sequestros de navios, o que forçou rotas alternativas mais longas e mais caras.
Além disso, a escassez de contêineres elevou o preço do frete, e o Brasil ainda sofre com limitações logísticas nos portos, o que dificulta a exportação eficiente.
Consumo em alta e novos mercados
Mesmo com o aumento nos preços, o consumo de café segue em expansão. Entre janeiro e outubro de 2024, a demanda cresceu 1,1% no Brasil. Já no exterior, a abertura de novos mercados tem puxado a exportação. A China, por exemplo, passou da 20ª para a 6ª posição entre os principais compradores do grão brasileiro desde 2023.
“O café é resiliente na mesa do consumidor. Mesmo com o aumento, a demanda permanece firme”, afirmou Celírio Inácio da Silva, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
Quando o preço pode cair?
A expectativa é de que os preços do café permaneçam altos ao longo de 2025. Uma possível redução só poderá ser avaliada após a conclusão da atual colheita, em setembro. Para 2026, no entanto, a previsão é mais otimista, com a possibilidade de uma safra recorde, caso o clima se mantenha estável.
Com os ganhos recentes, produtores têm reinvestido na lavoura, o que pode impulsionar a produtividade nos próximos ciclos. Em 2024, o setor faturou R$ 36,82 bilhões, um aumento de 60,85% em relação a 2023, segundo a Abic.
Além disso, empresas estudam novas embalagens com pesos variados, como forma de oferecer preços mais acessíveis aos consumidores.
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