A partir desta quarta-feira (1º), o Brasil assume a presidência do Brics, grupo que reúne países como Rússia, Índia, China e África do Sul. O Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) informou que as atividades do bloco serão concentradas no primeiro semestre de 2025, devido à preparação para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém (PA), no segundo semestre.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem buscado expandir as relações multilaterais do Brasil, tem destacado a importância de blocos como o Brics e o Mercosul em várias ocasiões, especialmente em fóruns internacionais. No entanto, a presidência do Brics é rotativa, com duração de um ano, e o Brasil deveria assumir o comando em 2024. Contudo, devido à presidência do G20 no ano passado, o Brasil adiou sua vez, deixando a liderança do bloco para a Rússia.
De acordo com o Palácio do Planalto, o Brasil definirá cinco temas prioritários para discussão durante sua presidência:
- Facilitação do comércio e investimentos entre os países do grupo, com foco no desenvolvimento de novos meios de pagamento.
- Promoção de uma governança inclusiva e responsável para a Inteligência Artificial.
- Aprimoramento das estruturas de financiamento para enfrentar mudanças climáticas.
- Estímulo aos projetos de cooperação entre os países do Sul Global, com ênfase em saúde pública.
- Fortalecimento institucional do bloco.
O secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty, Eduardo Saboia, destacou a importância do Brics na construção de um mundo sustentável e defendeu um entendimento entre os países membros. Como presidente do bloco, o Brasil será responsável por organizar e coordenar as reuniões dos grupos de trabalho do Brics. O governo brasileiro prevê mais de 100 encontros entre fevereiro e julho, com destaque para a Cúpula do Brics, que ocorrerá em julho no Rio de Janeiro.
Ameaça de Trump sobre o dólar
O futuro da moeda norte-americana nas transações comerciais entre os países do Brics tem sido um tema controverso. O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou impor tarifas de 100% sobre produtos do bloco caso os países decidam substituir o dólar por outra moeda em suas transações comerciais. A dependência do dólar no comércio internacional, desde o Acordo de Bretton Woods em 1944, tem gerado vulnerabilidades, principalmente para economias emergentes, que ficam expostas às flutuações da moeda e da política monetária dos EUA. Por isso, o Brics tem discutido alternativas para reduzir essa dependência e minimizar os riscos para seus membros.
Ampliação do Brics e novas adesões
A presidência brasileira ocorre em um momento de tentativas de expansão do Brics. Originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia e China, o bloco passou a incluir a África do Sul em 2010 e, em 2023, admitiu seis novos membros: Irã, Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Argentina. No entanto, a adesão da Argentina foi cancelada devido à mudança de governo com a posse de Javier Milei, que é contra a entrada do país no bloco.
Além disso, o Brics passou a discutir a criação da categoria de “países parceiros”, com status inferior ao dos membros plenos, mas com possibilidade de participar das cúpulas e reuniões do grupo. Entre esses países parceiros estão Cuba, Turquia, Tailândia, Nigéria e Argélia.
Especialistas em relações internacionais e economia divergem sobre os impactos econômicos e geopolíticos dessa ampliação. Para alguns, como o professor José Luís da Costa Oreiro, da Universidade de Brasília (UnB), a busca por mais membros reflete uma disputa geopolítica entre a China, a Rússia e os EUA, com o Brics se tornando um campo de influência para os dois primeiros. Oreiro considera que a expansão não é necessariamente econômica, mas estratégica, criando novas áreas de influência no cenário global, como ocorre com o G7, liderado pelos EUA e Europa.
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